Para circular entre filas
Não passem entre dois carros sem que pelo menos um deles demonstre ter-vos visto (por exemplo, o da esquerda “abre” ligeiramente ao ver-vos aproximar), sem que tenham um espaço á frente dos dois que possam atingir rápidamente com uma boa aceleração, e sem que tenham uma visão suficiente para a frente deles (garanto que é muito desagradável ser surpreendido por uma curva e ter que inclinar para a fazer entre os dois carros, sobretudo sobre as linhas de marcação no alfalto, sob chuva, como já me sucedeu...).
Em vias rápidas e auto-estrada, a técnica da costura é muito eficaz, consistindo em adequar a velocidade a que rolamos por forma a aproveitar alternadamente o espaço entre os carros das duas filas, mantendo-nos desfasados de ambas.
Circulem com um regime motor suficiente para que possam acelerar forte em caso de problema.
Entre filas, é preciso estar sempre preparado para reagir com o máximo de rapidez, circulem com dois dedos sobre a manete de travão e o pé sobre o pedal do travão de trás.
Além disso, não circulem a uma velocidade superior áquela em que se sentem capazes de reagir a qualquer eventualidade. Procurem circular nunca ultrapassando em 20 ou 30 Km/h a velocidade de tráfego.
Comecem pelas filas quase paradas (hora de ponta na AE ou via rápida) e irão ganhando prática de uma forma progressiva.
Não se deve nunca ultrapassar uma viatura que tenha o pisca aceso, mesmo que seja um pisca “esquecido”. Nesses casos é sempre preferível jogar pelo seguro e esperar o tempo suficiente para ter a certeza que é um esquecimento, ou que o condutor se apercebe da nossa presença.
Se seguirem uma outra moto, devem fazê-lo a uma distância segura, não seja necessário efectuar uma travagem de emergência, mas não tão afastados que se perca o efeito de abertura de via: a experiencia demonstra que a maior parte dos automobilistas ficam particularmente atentos ás motos nos 10 seguntos seguintes a serem passados por uma. Devemos sempre que possível aproveitar esse efeito, uma vez que nos permite circular com menor fadiga, fisica e mental.
Se se sentirem fatigados, principalmente após um dia de trabalho, evitem circular entre filas e mantenham-se, a uma distância conveniente e desfasados, atrás da viatura que vos precede (desde que não seja um pesado).
Se existirem mais de duas filas e quiserem ganhar ou perder duas filas de uma vez, tenham em atenção que devem tirar e recolocar o pisca correspondente a meio da manobra. Desta forma, a vossa manobra será tudo menos ambígua. Considerem também que um pisca pode querer dizer “tudo á esquerda” quando se preparam para passar por uma viatura em vias de mudar de fila á vossa direita.
Saber perder tempo é uma virtude
que vos pode salvar a vida. Em determinadas situações podemos deparar-nos com dois perigos potenciais, mas não conseguimos manter ambos no nosso campo de visão. Por exemplo, um furgão de carga descarrega mercadoria do lado esquerdo da rua, obstruindo a visão da passadeira de peões e temos uma prioridade á direita, do outro lado da rua.
Como não podemos olhar para os dois lados simultâneamente, deveremos saber identificar este género de situação em antecipação, e passar a 10Km/h onde normalmente passamos a 50 Km/h, mesmo se depois verificamos que não estava ninguém na passadeira.
Em caso de dúvida é sempre preferível esperar e não a executar, do que tentar anular uma manobra iniciada. Se já começaram a curvar, é preciso assumir, provávelmente com uma super descarga de adrenalina e o risco de cair, mas o risco potencial de tentar voltar à primeira forma é muito superior. Lembro o dito antigo: “devagar, que tenho pressa”. Saibam entendê-lo.
Enquanto estão parados no semáforo
Aproveitem para observar o que se passa á vossa volta, para além daquela moreninha gostosa de top e shorts que atravessa a passadeira na companhia daquela loura que...
Poderão assim antecipar o arranque dos outros, aperceberem-se da velhinha distraída que resolve passar no último momento, aquela mancha de gasóleo do outro lado do cruzamento, precisamente para onde se vão dirigir, etc.
Sentimo-nos absolutamente idiotas quando nos encontramos face a um perigo que poderíamos facilmente ter evitado se tivéssemos estado com atenção o que nos rodeia.
As rotundas
O grande clássico! Regra de base: qualquer rotunda deve ser considerada como uma banheira de gasóleo, principalmente á chuva.
Para entrar numa rotunda, tentem dirigir-se para as faixas centrais o mais possível em linha recta, manterem-se aí o tempo necessário e sair com uma trajectória o mais rectilínea possível em direcção á saída. O gasóleo está sempre acumulado na(s) fila(s) exterior(es), onde circulam os transportes públicos, ao passo que as interiores estão normalmente mais limpas.
Evitem circular depressa nas rotundas: estarão em ângulo tanto mais pronunciado quanto a velocidade a que se deslocam, o que complica as travagens de emergência.
Se tiverem que parar numa rotunda, apliquem a regra do desfasamento e avancem na fila, para evitar que vos entrem pela traseira. A maioria das pessoas não olham em frente nas rotundas, mas ligeiramente para a direita, em antecipação da saída. Tentem portanto posicionar-se do lado direito da vossa fila, por forma a serem vistos mais fácilmente.
Ultrapassar obstáculos
Para os passeios, os carris e as superfícies metálicas em geral, tentem sempre abordá-las o mais perpendicularmente e com o menor ângulo de inclinação possível. Podemos derrapar de frente ou de traseira ao subir um passeio o que, se a moto for alta / pesada significa queda pela certa. Os carris são o pesadelo de qualquer motociclista, principalmente com chuva: os pneus perdem aderência instantâneamente e a queda é inevitável.
As superfícies metálicas, como as tampas de esgoto polidas e as juntas de dilatação dos viadutos, são o terror em curva. A moto na melhor das hipóteses seguramente oscilará fortemente, na pior estaremos no chão antes de dizer “Piu”! Para limitar este fenómeno, e sem saírem da vossa fila de transito, antecipem a viragem, endireitem a moto imediatamente antes da superfície metálica por forma a passar o mais direito possível e de seguida retomem o ângulo de viragem para continuar a curva.
Ninguém vos obriga a manter uma trajectória de GP e a faixa de rodagem, neste caso particular, é toda vossa e deve ser usada em toda a sua largura!
De uma forma geral
Todo o comportamento suspeito e/ou ilógico de um outro utilizador da via pública deve fazer-vos suspeitar do pior. Pode ser o tipo que se entretém ao telefone enquanto mastiga a sandes e regula o volume do autorádio. Não se passa uma bomba rolante destas sem o máximo de cuidado e com uma margem de segurança enorme.
Na mesma linha, desconfiem de quem circula muito lentamente. Observem a cabeça do condutor: se a vira para todos os lados, é porque procura o caminho. Pode virar ou parar a qualquer momento, sem aviso prévio. Guardem distância ou atraiam a sua atenção (buzina, sinal de luzes, aceleradela).
Quando identificarem um perigo, não foquem toda a vossa atenção nesse perigo. Outro surgirá em simultâneo ( Lei de Murphy aplicada à moto...)
Olhem sempre para o lado dum obstáculo. Não fixem o olhar onde se vão espatifar, mas sim por onde podem escapar-se. A moto seguirá o olhar, em qualquer dos casos.
Na cidade, mais que em qualquer outro ambiente onde conduzimos, a chave para uma condução segura e eficaz reside na atenção extrema à nossa envolvente e na antecipação do comportamento dos outros, bem como no conhecimento o mais profundo possível da nossa montada. Para isso, aproveitem todas as oportunidades que vos surjam (em estradas desertas, em diversos tipos de piso, etc) para praticar todas aquelas manobras e procedimentos que em caso de emergência vos poderão vir a ser úteis.
Estou a lembrar-me de que devem explorar os limites de travagem da vossa moto, frente e trás, para que quando tiverem de travar a fundo não sejam surpreendidos, devem treinar o olhar para os lados sem que a moto se desvie da trajectória (não mais de 3 segundos de cada vez!), as travagens em curva e como é que a moto reage nessas situações, andar sobre gravilha em condições controladas, em recta, devagar, travando progressivamente para se aperceberem das reacções da moto nessas condições e não ficarem em pânico quando apanharem gravilha ou terra a meio de uma curva.
Estes são apenas alguns exemplos, sem a veleidade de ser exaustivo. Sobretudo, aprendam com os vossos erros! Como tudo na vida, a prática fará a diferença entre o conhecimento teórico como este que vos deixo e a realidade do dia-a-dia.